Segundo estudo feito por psicóloga da USP em Ribeirão Preto, falta capacitação para os profissionais da área da saúde lidarem com questões de sexualidade dos pacientes
Falta treinamento para os profissionais da área da saúde lidarem com questões de sexualidade dos pacientes. Esta é a conclusão do estudo feito pela psicóloga Vanessa Monteiro Cesnik van der Geest, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, ao analisar informações de profissionais de enfermagem em Ribeirão Preto.
A dificuldade em abordar o tema sexualidade pode prejudicar a saúde dos pacientes. “Danos que poderiam ser evitados com treinamento adequado e atitude proativa dos profissionais”, segundo a pesquisadora.
Vanessa exemplifica dizendo que “um homem pode boicotar o tratamento de pressão alta, porque o remédio pode causar impotência sexual e ele não se sentir à vontade de conversar com o médico; ou então, uma mulher em tratamento contra o câncer de mama pode sentir dores na relação sexual, devido à diminuição da lubrificação vaginal. Se esta mulher fosse avisada sobre esse efeito colateral, poderia evitar maiores danos em sua saúde sexual”.
Para a pesquisa, Vanessa listou 34 atividades da rotina de profissionais de enfermagem hospitalares (nível superior e técnico), relacionadas à sexualidade. Desde conversas com o paciente sobre mudanças na vida sexual, após alguma doença ou tratamento, até o toque ou exposição íntima da região genital, durante algum procedimento.
A pesquisadora elaborou também questionário para identificar as prioridades de treinamento desses profissionais e buscar crenças e outras variáveis individuais e relativas ao trabalho que influenciam a necessidade de treinamento na área.
Após análise de 217 questionários, Vanessa concluiu que, de um modo geral, os profissionais de enfermagem apresentam maior dificuldade na “discussão geral sobre sexualidade com pacientes, familiares e equipe”. Essa característica é mais evidente naqueles que acreditam “ser menos importante a abordagem de questões sexuais com pacientes” e que não atendem adolescentes, crianças e bebês.
O estudo identificou que os profissionais que precisam de treinamento sobre “prevenções e complicações clínicas na sexualidade” também são aqueles com menor crença na importância em abordar questões sexuais. E ainda, que os enfermeiros com maior necessidade de treinamento em exposição íntima do paciente são os que possuem mais tempo de trabalho no hospital, independentemente da idade ou do tempo de profissão.
“Esses resultados são muito importantes, pois treinar um profissional sem saber o ponto fraco dele pode gerar desperdício de recursos; além disso, quando temos uma amostra muito diversificada, o resultado geral pode mascarar dificuldades específicas de uma população”, afirma a professora Thais Zerbini, orientadora do estudo.
Para solucionar a carência de treinamento dos profissionais de enfermagem com relação às questões de sexualidade, Vanessa afirma que “deveria haver obrigatoriedade no ensino dessas questões nas universidades aos profissionais da saúde em geral. Não apenas para ensinar sobre doenças e transtornos, mas também para abordar assuntos com a resposta sexual humana e debates para capacitar o profissional a falar sobre o assunto sem constrangimento ou desconforto”.
De acordo com Vanessa, quando são ensinadas atividades relacionadas à sexualidade do paciente, isso gera diversos sentimentos nos profissionais e esbarra em crenças pessoais, “por isso é importante ter debates e diálogos, assim abrirá espaços para que novas crenças sejam criadas em conjunto, de modo que facilitem o atendimento às questões de sexualidade do paciente”, conta.
A fim de mudar essa realidade, Vanessa está organizando uma semana de palestras gratuitas sobre sexualidade para profissionais da saúde, que acontecerá no período de 24 a 29 de janeiro. As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas no site www.sexualidadeonline.com.br.
Gabriela Vilas Boas, de Ribeirão Preto
Mais informações: vmcesnik@gmail.com