"Como falar de direitos humanos e saúde sem estarmos sob um domínio, um conjunto de valores comuns?", indagou o coordenador do Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência da Escola de Comunicação da UFRJ, Evandro Vieira Ouriques, durante a palestra Território Mental, Comunicação e Saúde, promovida pelo Grupo Direitos Humanos e Saúde da ENSP. Segundo ele, não é possível gerar políticas públicas, articulações partidárias, planejamento estratégico de médio e longo prazo, entre outros, se não conseguirmos produzir valores comuns. "Esse é o grande dilaceramento, o ponto cego ocidental sobre a minha perspectiva da teoria social", afirmou Evandro.
O palestrante – que em 2010 recebeu o Best Scholar 2010 Award de melhor acadêmico do mundo, conferido pelo Reputation Institute, de Nova York, por seu trabalho pioneiro transdisciplinar sobre gestão da mente e ação nos territórios – ressaltou que a maioria das pessoas quer modificar a ação nos territórios (espaço + poder) sem ocupar o único lugar que é efetivamente nosso, que é a nossa mente, o território mental.
"Chamo de território mental o fluxo de pensamentos, afetos e percepções que fazem um conjunto de processos cognitivos. Além disso, considero esse termo um dispositivo de transformação. Pois como efetivamente podemos mudar de atitude somente através de uma perspectiva psicopolítica? Como falar de direitos humanos e saúde sem estarmos sob um domínio, um conjunto de valores comuns? Esse é o grande dilaceramento, o ponto cego ocidental sobre a minha perspectiva da teoria social. É lamentável, mas a impotência da teoria social de gerar valores comuns, calcados na ideia de uma liberdade absoluta e sem limite, se revela na totalização pelo capital", disse ele.
De acordo com Evandro, a grande questão está em saber como podemos gerar políticas públicas, articulação políticas e partidárias, gerar um planejamento estratégico de médio a longo prazo em instituições, grupos de estudos ou mesmo em um continente se não conseguirmos produzir valores comuns. "Como é possível gerar, em uma sociedade, atitudes societais se não estamos de comum acordo a respeito dessas atitudes?", questionou.
Ele disse, ainda, que a única saída para essa narrativa totalitária é seguir o que Boaventura de Sousa Santos chama de Teoria da Tradução. "É preciso que se faça com que os vários campos de conhecimentos distintos possam conversar entre si. Eles precisam escutar as suas dores, escutar suas necessidades para alcançarem uma mudança real", apontou.