Os produtores da agricultura familiar entendem os agrotóxicos como “veneno” para o combate às pragas no campo, mas minimizam seus efeitos sobre o seu próprio corpo e nem sempre seguem as regras da correta utilização do Equipamento de Proteção Individual (EPI). É o que aponta uma pesquisa do Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP) do Centro de Estudos Rurais e Urbanos (Ceru), sediado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
“Percebemos que falta um trabalho educacional das associações e cooperativas e do serviço de extensão rural oficial das secretarias da Agricultura, tanto estadual quando municipal, de ir ao campo e ensinar como se utiliza corretamente o agrotóxico, as implicações do uso desse produto para a saúde do trabalhador, a possibilidade de contaminação das águas e solos”, avalia Maria Helena Rocha Antuniassi, pesquisadora do Ceru e autora da pesquisa juntamente com o professor Luis Carlos Ferreira de Almeida, da Unesp em Registro.
O estudo Representação e práticas de utilização de produtos agroquímicos na pequena agricultura familiar do Vale do Ribeira – Estado de São Paulo – Brasil foi realizado entre 2013 e 2014, nas cidades Registro, Itapeva, Ribeirão Branco, Pilar do Sul, Cananéia, Apiaí, Guapiara, Capão Bonito, Jacupiranga e São Miguel Arcanjo.
“Selecionamos o Vale do Ribeira porque a agricultura familiar tem grande relevância na região, além disso, grande parte desses municípios possuem os menores índices de desenvolvimento humano (IDH) no Estado de São Paulo, com alto índice de analfabetismo, condições precárias de habitação, falta de infraestrutura em saneamento básico, etc.”, informa Maria Helena.
A proposta da pesquisa experimental teve dois objetivos: fazer um trabalho educacional para difundir conceitos e práticas sobre saúde do trabalhador, como a correta utilização do EPI e preservação do meio ambiente, além de pesquisa sociológica para conhecer a representação que os agricultores têm sobre os produtos agroquímicos.
Reuniões
Os pesquisadores promoveram encontros com os agricultores em cada cidade. No total, participaram 123 pessoas. Nas reuniões, foi distribuído um questionário com 15 perguntas sobre conceitos de intoxicações crônica e aguda por agrotóxico, uso, período de carência, transporte e armazenamento, uso de equipamento de proteção individual (EPI), destino das embalagens e técnicas de aplicação.
Em relação à intoxicação, foram feitos dois questionamentos. Dos entrevistados, 55% disseram não saber a resposta sobre o questionamento “a exposição a uma grande quantidade de agrotóxicos em curto espaço de tempo causa uma intoxicação?” e 26,8% deles responderam incorretamente.
Sobre o questionamento se a exposição em pequenas quantidades de agrotóxicos em um longo de tempo causa uma intoxicação, 50% não sabiam a resposta e 22,8% informaram a resposta errada.
Após a aplicação das 15 perguntas do questionário, os pesquisadores realizavam uma palestra para demonstrar o uso correto do EPI. Depois disso, novamente um questionário era aplicado. “O nível de acerto melhorou após a apresentação das palestras. A diferença das médias para todas as questões entre os dois momentos foi de 9,18 acertos, no primeiro momento, para 10,63 acertos no segundo momento”, contabiliza Maria Helena.
Representação
De acordo com a pesquisadora, em conversas com os agricultores, eles denominavam o agrotóxico como um ‘veneno’ para as pragas da agricultura. “Eles sabem que os produtos agroquímicos são veneno, mas eles não têm a noção exata de como essas substâncias podem afetar sua saúde, ainda não há uma clareza suficiente para os agricultores que esses produtos são também um veneno para ele e por isso a importância de se proteger com o EPI”.
Maria Helena reforça a necessidade do trabalho educacional de extensão rural “para informar os pequenos produtores da agricultura familiar sobre a correta utilização dos produtos agroquímicos de forma a preservar a saúde deles e evitar o risco de contaminação do meio ambiente pelo uso inadequado”.
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