Os países do continente americano devem adotar medidas para proteger sua população contra a cólera antes que a epidemia se propague ainda mais, afirmou no dia 23 de novembro um alto funcionário da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Além do Haiti, a República Dominicana e os Estados Unidos têm casos confirmados de cólera e não se pode descartar o risco de que seja propagado a outros países, afirmou Jon K. Andrus, Diretor Adjunto da OPAS.
"Para muitos de nós aqui, esta é uma reminiscência da epidemia de cólera que começou no Peru em 1991 e se propagou para mais de 16 países do continente americano em dois anos", disse Andrus. "Em vista da intensidade das viagens e do comércio no continente, sabemos que é difícil prevenir a importação de casos isolados de cólera em outros países, mas há medidas importantes que podem ser adotadas para evitar que a cólera se propague e cause epidemias".
A OPAS enviou recentemente um aviso de alerta às autoridades sanitárias de seus Estados Membros na América Latina e Caribe orientando-lhes a adotar medidas para que se prepararem para a possível chegada da cólera. As medidas recomendadas foram os seguintes:
– Intensificação da vigilância para a rápida detecção de todo caso presumido de cólera.
– Fortalecimento dos planos de preparação e resposta para conseguir que os sistemas de atenção à saúde dos países possam tratar qualquer aumento ou aparecimento da cólera de forma repentina.
– Melhoria dos serviços de abastecimento de água e saneamento para prevenir a propagação.
– Maior educação pública quanto à importância da lavagem das mãos e os refugos adequados das fezes, bem como do tratamento rápido com sais de re-hidratação oral ou, para os casos graves, cuidado médico especializado.
A OPAS já tem ajudado as autoridades sanitárias do Caribe em seu planejamento para a possível chegada da cólera às suas costas. Na mensagem a outros Países-Membros, a OPAS ofereceu apoio em relação a planejamento e preparação em campos como a vigilância, o abastecimento de água e saneamento e a comunicação social.
De acordo com os exercícios estatísticos feitos com a finalidade de planejamento no Haiti, projeta-se que haverá aproximadamente 400 mil casos de cólera nos próximos 12 meses, explicou Andrus, e a metade desses casos poderia ocorrer nos próximos três meses.
Mas advertiu que as projeções "representam trabalho em marcha no qual são levadas em consideração muitas suposições, por exemplo, diferenças das taxas de ataque entre as zonas urbanas e rurais e que não haja nenhuma mudança nas condições ambientais. Estamos trabalhando para refinar estes cálculos preliminares com os colaboradores envolvidos a fim de melhorar e manter a gestão de fornecimentos para responder à epidemia".
Um desafio fundamental – e uma meta essencial – para responder à epidemia no Haiti consiste em garantir o fornecimento de água potável e condições adequadas de saneamento, bem como do tratamento rápido dos casos, assinalou Andrus.
"A curto prazo, os esforços devem ser centrados na distribuição de água potável e condições adequadas de saneamento. A longo prazo, devemos criar sistemas e infraestrutura para garantir um acesso equitativo a estes serviços básicos".
Durante o fim de semana, saíram vários caminhões e helicópteros do depósito de PROMESS da OPAS, na capital do Haiti, com aproximadamente 40 toneladas de suprimentos e medicamentos essenciais para serem entregues nas zonas mais afetadas pela cólera e para acumular fornecimentos com antecipação em zonas remotas ainda não afetadas.
Até o momento, a OPAS distribuiu suprimentos para tratar cerca de 80 mil pacientes de cólera. "Temos mais à mão, mas em um futuro próximo necessitaremos ainda mais fornecimentos, camas para doentes de cólera e médicos, equipes de enfermaria e pessoas capacitadas para ensinar para os médicos locais que tratam os pacientes de cólera", afirmou Andrus. "Também necessitamos mais especialistas em mobilização social para transmitir informação quanto à prevenção da cólera".
A violência, em particular na província Norte do Haiti, dificultou o trabalho crítico de socorro e cuidado médico, reconheceu Andrus. A OPAS recebeu relatórios de pacientes que não tiveram acesso aos serviços médicos nestas zonas. Hoje, alguns membros da equipe internacional e trabalhadores médicos incluindo alguns funcionários da OPAS – seguiam confinados a suas moradias como resultado da contínua insegurança.
"É óbvio que o país necessitará de mais financiamento. Nossa resposta, junto com todos os associados, não tem sido tão rápida como queríamos. A razão é que, ainda antes da crise, o país não dispunha dos elementos fundamentais para a saúde, como a água, saneamento, alimentos aptos para o consumo e os serviços de atenção sanitária adequados". Afirmou que ajudar o Haiti a conseguir autossuficiência em todos estes campos é um objetivo essencial a longo prazo.
Enquanto isso, "incentivamos os associados para que façam tudo o possível para contratar e capacitar o povo haitiano por meio de programas de pagamento em dinheiro em espécie por trabalho. Isto vai ao encontro com o nosso objetivo primário de ajudar o povo e o Governo do Haiti na resposta e na tarefa de assumir a direção principal para fazer frente a esta crise".