Ivanir Ferreira, do USP Online
A prática do remo pode ser uma poderosa aliada para o resgate da qualidade de vida das mulheres que tiveram câncer de mama e ainda diminuir a probabilidade de reincidência da doença. Esses são alguns dos resultados obtidos pelo Remama, projeto realizado desde 2013 na Raia Olímpica da USP pelo Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp), cujo objetivo é a reabilitação através do esporte.
O Remama acontece em parceria com o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e envolve a USP e a Rede de Reabilitação Lucy Montoro. As mulheres são pacientes do Instituto que, logo após passar pelo tratamento da doença, são avaliadas, triadas e encaminhadas por médicos para dar início aos treinamentos das atividades que começam em aparelhos remo ergômetros no próprio Instituto. No Cepeusp, recebem orientação e preparo do professor Ricardo Linares, um dos coordenadores do projeto pela USP, para fazer as aulas ao ar livre. Depois desse processo, as mulheres estão aptas para cair na água e dar as primeiras remadas em barcos e canoas. As aulas são ministradas três vezes por semana, durante uma hora e meia, na Raia Olímpica da USP, na Cidade Universitária. As pacientes não ficam em grupos separados, são incluídas e recebem instruções juntamente às demais alunas do remo. “Respeitada a individualidade e a limitação de cada uma, exijo igualmente de todas”, afirma Linares.
O remo é um esporte aquático completo e proporciona ao praticante disciplinado condicionamento cardiopulmonar, fortalecimento muscular e controle de peso corporal. Braços, pernas e troncos são bastante requisitados para impulsionar e movimentar o barco.
De acordo com Linares, o projeto Remama tem proporcionado inúmeros benefícios fisiológicos e psicológicos às mulheres que passaram pelo câncer. Com a prática do remo, a reincidência da doença é minimizada em virtude do aumento da resistência física de um modo em geral, o que influencia na melhora do sistema imunológico para trabalhar no combate ao desenvolvimento de doenças.
Os inchaços nos braços, comum nas mulheres que tiveram câncer de mama, também são reduzidos em virtude do trabalho feito com os membros superiores – a musculatura peitoral e dorsal. O reequilíbrio corporal é outro benefício que as pacientes relataram depois que passaram a fazer a atividade. A falta de equilíbrio acontece em virtude da perda de massa corporal nas cirurgias para retirada do câncer.
Pelo aspecto psicológico, Linares pôde observar que as mulheres do Remama renasceram ao realizar uma atividade física prazerosa e que estimula o convívio e a interação social. Isso porque elas são vistas como alunas e não como pacientes. A autoestima se eleva e elas conquistam mais qualidade de vida. “A mulher que teve câncer não precisa ficar condicionada ao estigma da doença. A fase de recuperação acaba sendo passageira”, opina.
Câncer de mama
O câncer de mama é o de maior incidência entre as mulheres. A estimativa é que em 2015 ocorram cerca de 57.120 novos casos. Mesmo sendo uma porcentagem pequena, a neoplasia também pode se manifestar em homens.
A doença é causada por alterações genéticas, podendo ou não ser estimulada por fatores do meio ambiente ou pelos hábitos adquiridos, como ingestão de bebida alcoólica e tabagismo. Também são variáveis o uso de hormônio (TRH – terapia de reposição hormonal); o início de menstruação em idade muito jovem; a menopausa em idade tardia; a gravidez tardia; um menor número de filhos; o excesso de peso; e o histórico desta doença na família.
Como tratamento, é indicado o procedimento cirúrgico para retirada parcial (quadrantectomia) ou total (mastectomia) da mama, sendo completado com radioterapia, quimioterapia e hormonoterapia. O diagnóstico é feito através de exames clínicos e por meio de mamografias, ultrassom ou ressonância magnética.
Foto: Cecília Bastos
Mais informações: (11) 3091-3306, email rlinares@usp.br