A susbtância beta-ionona (BI) tem potencial quimiopreventivo para o câncer de fígado. Encontrada em uvas e aromatizantes de vinhos, a BI é um composto bioativo da classe dos isoprenóides, envolvido com a via metabólica do mevalonato e a síntese do colesterol. Em testes realizados com animais, na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP pela pesquisadora Mayara Lilian Paulino Miranda, verificou-se que a BI reduziu lesões pré-neoplásicas (LPN) no órgão, que precedem o câncer. O estudo também apresenta indícios de que a substância atenua o desenvolvimento da doença hepática gordurosa não alcoólica (NAFLD), causada pelo acúmulo de gordura no fígado, que pode estar relacionada ao aparecimento das lesões.
Células ovais hepáticas são reconhecidas como células progenitoras, ou seja, que podem se diferenciar e dar origem a outras células como hepatócitos e colangiócitos. Essas células muitas vezes estão aumentadas em LPNs, e segundo a teoria hierárquica, podem dar origem a neoplasias. “A BI reduziu o número e área das LPNs persistentes, além de reduzir a proliferação celular e o escore de células ovais. Isso demonstra que o composto apresenta um potencial efeito quimiopreventivo”, ressalta Mayara. “Além disso, há evidências de que a substância atenua o desenvolvimento da NAFLD, por reduzir o grau de esteatose e de inflamação”
A pesquisa também verificou que a doença potencializa o desenvolvimento de LPNs em ratos Wistar submetidos ao modelo do hepatócito resistente (RH) na etapa de iniciação e promoção inicial da hepatocarcinogênese (câncer de fígado). “Também foi observada a possível atividade quimiopreventiva da BI na associação entre NAFLD e RH (AS)”, diz Mayara.
A BI é um composto bioativo da classe dos isoprenóides presentes na estrutura molecular do retinol, β-caroteno (BC) e ácido retinoico e pode ser encontrada em uvas e aromatizantes de vinhos. “Isoprenóides são compostos bioativos que contém estruturas repetidas de cinco carbonos, relacionados com a via do mevalonato, uma via metabólica do ácido mevalônico que gera como subprodutos escaleno, lanosterol e colesterol, diz a pesquisadora. “Entretanto a biodisponiblidade da BI é reduzida, sendo necessário um consumo muito superior ao humano para atingir doses com efeito biológico considerável”, descreve a pesquisadora.
O composto possui potencial quimiopreventivo demonstrado em diversos estudos in vitro em células neoplásicas como de mama, colón, gástrico, melanoma e leucemia. “Entretanto são poucos os estudos in vivo com esse isoprenóide, de modo que são ainda necessárias mais pesquisas até que seja viável sua utilização em estudos com humanos”, conclui Mayara. A pesquisa foi orientada pelo professor Fernando Salvador Moreno, da FCF, que desenvolve estudos na área de quimioprevenção do câncer.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Mais informações: email mlpmiranda@gmail.com, com Mayara Lilian Paulino Miranda