O número de cirurgias não-cardíacas no Brasil aumentou em 20,42% e os seus gastos cresceram quase 200% durante o período de 1995 a 2007. No total, houve mais de 32 milhões de cirurgias não-cardíacas no Brasil durante os 13 anos estudados e os gastos relacionados às hospitalizações cirúrgicas foram maiores que US$10 bilhões. Os dados são do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), a partir da análise do banco de dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (DATASUS).
O crescimento do número de procedimentos cirúrgicos provavelmente está relacionado com as mudanças demográficas e tecnológicas que ocorreram no País e no mundo nos últimos anos, justifica a médica do Incor Pai Ching Yu, autora da pesquisa.
Segundo ela, o aumento da expectativa de vida e o envelhecimento da população propiciam uma maior vulnerabilidade das pessoas às doenças cirúrgicas e, consequente, aumento do número de operações. A médica ainda acrescenta que o aumento também pode ser reflexo do fato de que hoje a população brasileira tem mais acesso às cirurgias oferecidas pelo sistema de saúde.
O trabalho fez parte da tese de doutorado de Yu pela FMUSP, sob orientação do professor Bruno Caramelli. Dentro do tema de cirurgias não-cardíacas, foram estudados cinco variáveis: número de internações, gasto total com as internações, gasto com as transfusões de sangue, tempo de internação hospitalar e taxa de mortalidade.
O custo com transfusões de sangue foi próximo de US$98 milhões. Quanto à taxa de mortalidade nas internações cirúrgicas, o estudo constatou que ela aumentou 31,11%. Yu explica que o crescimento na taxa se deve à mudança de perfil demográfica e clínica da população nos últimos anos. Estamos atendendo pacientes mais idosos, com mais co-morbidades (conjunto de doenças clínicas, como pressão alta, diabetes e colesterol alto) e com maior risco cirúrgico, comenta.
A pesquisa exclui cirurgias de pequeno porte (como as de ambulatório), aquelas de peculiaridades específicas (parto, por exemplo) e os pequenos procedimentos (como biópsias).
Comparações
Apesar do aumento dos gastos, Yu faz ressalvas sobre o montante:Quando se compara com dados internacionais, o Brasil está muito aquém. A pesquisa da médica destacou informações da Organização Mundial de Saúde (OMS), que aponta que o governo brasileiro investe na saúde por pessoa por ano somente US$204,00, enquanto que a média do investimento global é de US$429,00.
Além disso, o Brasil opera anualmente 3 milhões de cirurgias não-cardíacas, bem abaixo do número de países desenvolvidos, como os EUA que atendeu 38 milhões de cirurgias e a União Européia com 7 milhões. Já com base em estudos e publicações de países norte-americanos, a médica observa que os casos de fatalidade no País ainda são duas vezes maior que os índices dos EUA e quase nove vezes maior que os índices canadenses.
Yu também comenta que ainda há poucas pesquisas no Brasil que interpretam os dados disponibilizados pelo DATASUS e que seu estudo terá uma próxima etapa, em que pretende analisar os dados por especialidade nas cirurgias. O intuito é verificar a peculiaridade das variáveis estudadas em cada especialidade. Conseguimos obter um perfil cirúrgico dos procedimentos no Brasil. Na próxima etapa, esperamos que os nossos resultados possam contribuir no planejamento e investimento na área de saúde.
Mais informações: (11) 3069-5376, email paichingyu@incor.usp.br