Estudo revela fatores que aumentam risco de morte por H1N1

Na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, análises dos pacientes que tiveram influenza A(H1N1)pdm09 em São Paulo durante a epidemia de gripe que aconteceu em 2009 revelam os fatores que levam a um maior risco de morte provocada pela doença. O trabalho da médica sanitarista Ana Freitas Ribeiro aponta que os maiores riscos estão em pessoas com idade entre 18 e 59 anos, com obesidade e imunossupressão, entre outros fatores. Estudo específico com gestantes constatou maior número de perdas fetais e partos prematuros nas mulheres que morreram. A pesquisa ressalta a importância da identificação dos pacientes com maior risco e do tratamento precoce para reduzir a mortalidade e aumentar as chances de cura.

A identificação de um novo vírus da gripe (subtipo viral, influenza A(H1N1)pdm09), em abril de 2009 e anúncio do início de uma pandemia de influenza pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em junho do mesmo ano, levaram ao início da pesquisa. Durante o trabalho foram realizados dois estudos caso-controles, em pacientes e em gestantes hospitalizados com influenza A(H1N1) pdm09 confirmada laboratorialmente e Doença Respiratória Aguda Grave (DRAG). “O objetivo era identificar os fatores de risco de morte nos dois grupos”, afirma Ana. “Nas gestantes, foram analisados também os desfechos da gestação e e neonatais, após o nascimento das crianças”.

A médica explica que os “casos” se referem aos pacientes que evoluíram para morte e os “controles” são aqueles que alcançaram a cura. “Ambos os grupos foram selecionados por meio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN-Influenza-web), organizado pelo Ministério da Saúde”, diz, “sendo sorteados dois controles no estudo dos pacientes, e quatro no das gestantes, pareados por semana epidemiológica da data de internação”.

Durante a pesquisa aconteceram avaliações dos prontuários hospitalares e entrevistas domiciliares, a partir de formulários padronizados, de um total de 812 pacientes. “O primeiro estudo foi realizado nas regiões metropolitanas de São Paulo e de Campinas, de 28 de junho a 29 de agosto de 2009. Foram avaliados 579 pacientes, sendo 193 que morreram e 386 que se recuperaram”, descreve a médica. “Nas gestantes, o estudo incluiu o Estado de São Paulo, de 9 de junho a 1 de dezembro de 2009, com 233 casos analisados, entre os quais houve 48 mortes”.

Risco de morte 
No primeiro estudo, foram fatores de risco para morte ter idade entre 18 e 59 anos, doenças crônicas, imunodepressão, obesidade e ter tido atendimento anterior à internação. “O tratamento antiviral, quando administrado nas primeiras 72 horas do início dos sintomas, foi fator de proteção”, destaca Ana.

Em gestantes, foram investigados 48 casos e 185 controles. “Foram fatores de risco para morte ter tido atendimento prévio à internação e estar no terceiro trimestre de gestação. O tratamento antiviral foi fator de proteção, principalmente quando administrado até 72 horas do início dos sintomas”, afirma a médica. Em relação aos desfechos gestacionais, houve maior proporção de perdas fetais e partos prematuros entre as mulheres que morreram. “Elas tiveram recém-nascidos vivos com peso mais baixo e índices inferiores no Apgar do primeiro minuto (medida dos sinais vitais), quando comparado às mulheres que se recuperaram e tiveram parto durante a internação”.

De acordo com Ana, a identificação dos pacientes de maior risco e o tratamento precoce são fatores importantes para a redução das internações e da mortalidade por influenza. “A capacitação dos profissionais de saúde e o acesso aos serviços de saúde são fatores importantes para o adequado manejo clínico dos pacientes com síndrome gripal e condições de risco, bem como pacientes com sinais de agravamento, em especial a utilização precoce do antiviral”, aponta. “Manter boa cobertura durante a Campanha de Vacinação contra Influenza nos grupos prioritários também é fundamental”.

Os grupos prioritários para a vacinação são crianças de seis meses a cinco anos de idade, gestantes, puérperas, trabalhadores da área de saúde, povos indígenas, pessoas com 60 anos ou mais, população privada de liberdade e funcionários do sistema prisional e pessoas portadoras de doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas especiais, como doenças respiratórias, cardíacas crônicas, renais, hepáticas e neurológicas crônicas, diabetes, imunossupressão, trissomias (síndrome de Down), obesidade (grau III) e transplantados. Os resultados da pesquisa são descritos na tese de doutorado “Fatores de Risco para Óbito por Influenza A(H1N1)pdm09, Estado de São Paulo, 2009″, defendida na FSP no último mês de março. O trabalho teve a orientação da professora. Dirce Maria Trevisan Zanetta.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Mais informações: email anafribeiro@uol.com.br, com Ana Freitas Ribeiro