Pesquisadores da FSP/USP revelam condições de saúde bucal de crianças e adolescentes do extremo sul de São Paulo.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de São Paulo, em parceria técnico-científica com o CECOL/USP – Centro Colaborador do Ministério da Saúde em Vigilância da Saúde Bucal, que reúne pesquisadores das Faculdades de Saúde Pública (FSP) e de Odontologia (FO) da USP, divulga os principais resultados da pesquisa denominada “Relação entre Qualidade de Vida e Condições de Saúde Bucal”, em atividade na FOUSP, em 29/5/15.

Os dados foram coletados em 2013 e se referem a crianças e adolescentes, de 5 e 12 anos de idade respectivamente, residentes nos distritos administrativos de Parelheiros e de Engenheiro Marsilac, localizados no extremo sul da capital paulista.

As condições de saúde bucal consideradas na pesquisa foram a cárie dentária, os problemas de mordida (oclusopatias), a prevalência e a gravidade da fluorose dentária, as necessidades de tratamento odontológico e os impactos dessas condições bucais na qualidade de vida dessa população, avaliado pelo grau de dificuldade para realização de atividades do dia-a-dia.

Conhecer essas condições é muito importante para identificar as ações necessárias para prevenir doenças e promover a saúde e, também, para o planejamento e organização dos serviços públicos odontológicos.

Foram examinadas, por dentistas e auxiliares da SMS, 1.179 pessoas (5 anos = 588, 12 anos = 591). Essas idades são as recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde para pesquisas desse tipo. A metodologia adotada em São Paulo é também a recomendada pela OMS.

CÁRIE DENTÁRIA

Observou-se que aos 5 anos de idade 61,4% das crianças estavam livres de cárie no distrito de Parelheiros, mas apenas 38,6% no distrito de Engenheiro Marsilac. Para avaliar o significado desse valor, deve-se levar em conta que a OMS havia fixado que, para o ano 2000, essa porcentagem deveria ser superior a 50%. Como não foram fixadas metas para o período mais recente, essa referência é ainda hoje bastante utilizada em vários municípios para avaliar sua situação. Assim, essa meta, embora se refira a um momento no passado, ajuda a avaliar a situação na região do Extremo Sul de São Paulo, em 2013.

Aos 5 anos as crianças de Parelheiros apresentaram 1,6 dentes, em média, atingidos pela cárie, mas a média registrada para Engenheiro Marsilac foi de 3,1. O valor médio obtido pela Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, em 2010, para a macrorregião Sudeste foi 2,1. Para 12 anos de idade, a meta da OMS para o ano 2000 foi de no máximo 3 dentes CPO (ou seja, dentes permanentes cariados, perdidos e obturados). A média CPO para Parelheiros foi 0,8 e para Engenheiro Marsilac 1,6 indicando diferença estatisticamente significativa entre os distritos paulistanos, embora em ambos tenha sido atingida a meta fixada pela OMS para o ano 2000.

O padrão 2 de distribuição da cárie dentária na população da cidade de São Paulo é semelhante à situação encontrada para a região Sudeste, e na comparação com outras regiões do mundo, pode ser caracterizado como de baixa prevalência. Mas predominou o componente “cariado”, tanto aos 5 quanto aos 12 anos de idade, indicando a persistência de dificuldades de acesso aos serviços odontológicos para tratamento.

A baixa prevalência da doença decorre do acesso da população aos fluoretos propiciado pelas políticas públicas que asseguram a fluoretação da água de abastecimento público e que estimulam a implementação de programas de escovação dental supervisionada com dentifrício fluorado em pré-escolas e nas escolas de primeiro grau.

OCLUSÃO DENTÁRIA

Aos 12 anos de idade, a má oclusão estava presente em 38,7% dos adolescentes de Parelheiros e em 42,4% em Engenheiro Marsilac. A ocorrência desse problema na população brasileira foi de 38% em 2010. A má oclusão foi considerada muito grave ou incapacitante em 6,9% dos adolescentes de Parelheiros e em 7,8% em Engenheiro Marsilac.

FLUOROSE DENTÁRIA

Predominou a ausência de fluorose dentária em ambos os distritos. Entre os adolescentes com fluorose dentárias, as formas de maior ocorrência foram as muito leve e leve, observando-se 19,2% em Parelheiros e 13,4% em Engenheiro Marsilac. Tais valores correspondem às expectativas para situações de exposição a múltiplas fontes de produtos fluorados (creme dental, alimentos, água, dentre outras), assemelhando-se aos níveis encontrados em outros municípios brasileiros.

Aos 12 anos de idade apenas 0,5% foram classificados como tendo fluorose dentária moderada em Engenheiro Marsilac e 0,5% com fluorose dentária severa em Parelheiros. Assim, esses distritos paulistanos não se diferenciam do que vem sendo observado em outras localidades.

NECESSIDADES DE TRATAMENTO ODONTOLÓGICO

Em relação às necessidades de tratamento odontológico, a prevalência de crianças de cinco anos e adolescentes de 12 anos com necessidades de procedimentos restauradores é elevada com valores mais altos para o DA Engenheiro Marsilac. Em ambos os distritos administrativos, 39,8% dos adolescentes necessitam de uma ou mais restaurações dentárias, 7,5% necessitam de tratamento de canal e 5,2% precisam extrair um ou mais dentes.

IMPACTO DAS CONDIÇÕES BUCAIS SOBRE A QUALIDADE DE VIDA

Os impactos das condições bucais sobre a qualidade de vida foram, em geral, baixos, mas praticamente 100% dos adolescentes sentiram, em algum grau, esses impactos. Em ambas as regiões, eles foram mais intensos nos domínios relativos à dificuldade para comer e para beber. Valores superiores foram observados no DA Parelheiros.

As limitações funcionais registram escores de 3,9 em Parelheiros e 3,3 em Engenheiro Marsilac. O comprometimento do bem-estar emocional foi de 3,1 e 2,6 respectivamente. As condições de maior frequência de queixa relacionadas a esses impactos foram a retenção de resíduos alimentares, o mau hálito, dor e dificuldade para beber ou mastigar alimentos quentes/frios, preocupação com o que as outras pessoas pensam; e inibição do sorriso/risada na presença de outros adolescentes.