Uma pesquisa feita por alunos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), ambas da USP mostrou que é possível detectar o vírus da dengue através da saliva e da urina. O projeto Estudo Prospectivo da Infecção pelo Vírus da Dengue em Crianças no Município de Ribeirão Preto, São Paulo foi coordenado pelo pesquisador Victor Hugo Aquino Quintana, que resolveu deixar os exames de sangue em segundo plano para o diagnóstico de doenças, principalmente por estar trabalhando com crianças. A saliva e a urina são substâncias mais fáceis de lidar quando se está trabalhando com elas, justifica.
Quintana trabalha com três alunos da FCFRP e um aluno da FMRP, que são responsáveis por executar as pesquisas em laboratório. Em meio a um estudo sobre o diagnóstico de dengue, uma aluna sugeriu que o vírus da doença fosse procurado na saliva e na urina de pacientes. O resultado da busca foi positivo e traz à tona a possibilidade de mudança da forma como a doença é diagnosticada.
Hoje em dia, um paciente leva, por meio do exame de sangue, segundo Quintana, cerca de dez dias para descobrir que está com dengue. Isso acontece porque no exame de sangue é procurado o anticorpo que vai combater a doença, não o vírus, conta o pesquisador. Assim, para que o corpo já esteja reagindo à dengue, é necessário que o paciente já esteja doente há dias. Essa demora já é tempo suficiente para o quadro piorar ou para o paciente já ficar curado e não se interessar mais pelo diagnóstico.
Já no exame que analisa a saliva ou a urina, procura-se detectar o vírus da doença quando os anticorpos ainda não começaram a agir e, por isso, ainda não têm como ser detectados. Assim, graças à rapidez do diagnóstico, o paciente já pode começar o tratamento para se curar no primeiro dia de manifestação dos sintomas.
Método preciso
Não é apenas o vírus da dengue que pode ser detectado por meio da saliva e da urina. Esse método não detecta apenas o vírus da dengue. Qualquer infecção viral, parasitária, bacteriana ou fúngica pode ser encontrada. O pesquisador explica que o método de detecção é preciso devido a um processo chamado amplificação, capaz de encontrar qualquer indício das doenças. Em 2009, inclusive, tal método foi utilizado para detectar a Influenza A quando a doença estava se em vias de se tornar uma epidemia. Já no caso da dengue, mesmo com a epidemia no Rio de Janeiro, em 2008, o aparelho não foi utilizado para a detecção do vírus, mas apenas para pesquisas sobre ele.
De acordo com Quintana, esse aparelho, chamado de termociclador, já existe em diversas cidades do Brasil, como Recife, Belém, Rio de Janeiro, São Paulo e Manaus, mas que eles estão apenas em grandes laboratórios. Será muito difícil garantir uma boa quantidade deles no sistema de saúde público. Cada aparelho pode custar entre R$ 25 mil e R$ 100 mil, dependendo de suas características.
Quintana diz que implementar termocicladores na saúde pública depende de uma política de interesse do sistema de saúde que, hoje, não existe. A dengue é uma doença muito negligenciada no Brasil. Isso não pode continuar, critica.
Mais informações: (16) 3602-4510; email vhugo@fcfrp.usp.br